sábado, 1 de agosto de 2009

O anão de Marakesh

Affonso Romano de Sant'Anna

Elas vão ao banho (dizem aos maridos) fazer limpeza de pele mas algo a mais ali sucede basta ver como depois além do corpo a alma lhes vai leve. O segredo deste anão está guardado na palma da mão e com seus dedos sabe sublimar as mulheres. Elas vêm, e ele com silencioso gesto pede que se dispam,se despem.Se ele dissesse, voem voariam, se dissesse dancem, dançariam se dissesse, amem-me o seu mínimo corpo amariam. Mas pede apenas que larguem suas vestes e se deitem à espera que suas pequenas mãos se agigantem e abram portas, janelas,desvãos, abismos na vertigem da viagem dentro da própria pele. Quando se despem despedem-se dos maridos e já não mais carecem de amantes é como se Penélope convertida em Ulisses nas mãos do anão a Odisséia sentissem. Ninguém sabe exatamente o que seus dedos operam.Começa pelos pés e algo vem subindo devagar ao leve toque que não toca, que roçam nas mas que não fere, que solicita e impera e vai em círculos como se o bem e o mal se transcendessem numa espiral de delícias. Os maridos e parceiros ficam no hall do hotel bebendo uísque, nas quadras jogando tênis e nunca saberão o que ocorreu ao leve toque daquelas pequenas potentes, suaves mãos. Finda a massagem (nome conveniente à transfigurante viagem) as mulheres reaparecem translúcidas caminhando a um centímetro do chão irrompem inalcançáveis como se tivessem tido uma visão. Aos maridos não adianta qualquer explicação. Há na pele da alma delas algo de que jamais se esquecem:o irrepetível toque dos dedos e das mãos do anão de Marrakesh.

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